sábado, 3 de setembro de 2011

Feijoada e Encontro

 
INFÂNCIA (2)
Eu matei minha saudade mas depois
veio outra
Cacaso, 1982

Então, finalmente, reencontro meus dois filhos ao mesmo tempo e no mesmo local após a Páscoa! Como nossos encontros ficaram complicados! Temos que conseguir adequar o tempo de cada um, os dias livres para isso têm que coincidir e etc..etc.. Por isso esse poema do Cacaso representa tanto para mim, o título já diz: Infância!
Que saudades tenho quando eles eram crianças, que bastava colocá-los na caminha, para sentí-los protegidos! Mas eu também saí um dia da caminha de casa, corri meus perigos e tive meus desafios.
Agora é a vez deles, e como um dia disse a filósofa Rita Lee: cada época tem seus desafios!
Ou seja: o mundo e os perigos não acabam em nós. Mas as soluções também não! Ainda bem...
Minha filha pediu feijoada. Apesar de já não estar tão frio (associo feijoada com temperaturas mais amenas, quando ela pode ser apreciada sem que o cristão sue em bicas) acatei o seu pedido. Particularmente não sou das maiores adeptas da feijoada, se bem que a aprecie uma ou duas vezes por ano.
Não costumo colocar a orelha e nem o rabicó do suíno, exceto quando tenho algum convidado que goste.
Para os puristas essa não seria uma verdadeira feijoada, para nossa família é a mais gostosa.
Nas fotos o feijão preto, um dos astros desse prato, não aparece. Minha filha deixou o coitado soterrado sob as carnes. Mas ele participou e bastante da iguaria brasileirinha, viu gente?
Nada de modéstia....o negócio é exagerar no pratão....

Ingredientes
Feijoada
1 kg de feijão preto
500 g de carne-seca cortada em cubos
1 xícara (chá) de bacon defumado picadinho
2 paios cortados em rodelas
1 linguiça calabresa defumada cortada em rodelas
500 g de costelinha suína defumada
200 g de lombo de porco defumado (opcional) cortado em cubos médios
1 cebola grande micropicadinha
4 dentes (grande) de alho amassado
2 folhas de louro
1/2 copo (requeijão) de suco de laranja coado
1/4 xícara (chá) de aguardente
pimenta-do-reino a gosto
sal a gosto
3 colheres (sopa) de azeite.

Vinagrete
1/2 pimentão vermelho picadinho em cubos
1/2 pimentão amarelo picadinho em cubos
1/2 pimentão verde picadinho em cubos
3 tomates firmes, sem sementes, picados em cubinhos
1 cebola (média) picadinha
salsinha e cebolinha picados a gosto
sal a gosto
1/4 xícara (chá) azeite
2 colheres (sopa) de vinagre
2 colheres (sopa) de suco de limão

Farofa

1 xícara (chá) de bacon cortado em cubos
1 cebola média picadinha
3 colheres (sopa) de manteiga
Farinha de mandioca a gosto
sal a gosto
salsinha e cebolinha a gosto

Como faço

Na véspera deixo o feijão, a carne-seca e a costelinha de molho,em vasilhas separadas. Troco a água da carne seca e da costelinha pelo menos duas vezes. 
Dou uma aferventada nas carnes para retirar o excesso de gordura, inclusive na linguiça e no paio. Só não afervento o lombo e o bacon. A carne-seca deixo cozinhando mais um pouco para que quando se juntar ao feijão já esteja um pouco macia.
Cozinho o feijão com  a costelinha, a carne-seca e folhas de louro até ficar macio. Enquanto isso escorro e reservo o paio e a linguiça que foram aferventados. À parte frito o bacon, se soltar muita gordura acrescento menos azeite para o refogado ou não acrescento. Junto então o paio, o lombo e a linguiça calabresa, deixo  fritar um pouco, acrescento o alho deixo dourar e depois a cebola que também deve ficar douradinha ( e não queimadinha...). É hora de juntar à essa "tchurma" o feijão com a carne-seca e as costelinhas. Abaixo o fogo, junto a aguardente e o suco de laranja. Mexo bem e provo o sal. Se preciso coloco um pouco, mas bem pouco, visto que o líquido vai reduzir e o sal se acentuar.
A aguardente e o suco de laranja reduzem (dizem..dizem...) a oleosidade do prato e acrescentam sabor. Mesmo quando não coloco a aguardente, não deixo de colocar o suco de laranja...acho que dá um up especial mesmo.
Agora é a hora de você decidir: pimenta ou não? E qual tipo de pimenta...Isso vai do gosto de cada um.
É importante não ter pressa, que os sabores se agreguem durante um cozimento lento, preguiçoso e acompanhado de uma boa prosa e biritas.
O ponto ideal é quando o caldo está bem espesso, mas não seco. É hora de verificar se necessita corrigir o sal. Pronto!

É hora da farofinha: frito o bacon, se produzir pouca gordura já acrescento a manteiga. Se produzir muita, retiro um pouco. É importante que essa farofinha fique úmida, mas não encharcada de gordura. Douro a cebola. Reduzo a chama ao mínímo e vou acrescentando a farinha de mandioca (uso a crua) ao poucos, mexendo sempre, carinhosamente e sem pressa, até que doure. Mexer continuamente é o segredo para que a farinha não queime. A quantidade de farinha vai do gosto da criatura que está suando sobre o fogão. Pode ser mais ou menos, dependendo do resultado desejado, uma farofinha mais úmida ou mais enxuta. Eu sempre prefiro mais úmida. Por isso é importante que ela seja colocada aos poucos para o controle da umidade desejada.
Depois de bem douradinha, corrijo o sal e acrescento o cheiro verde micropicadinho.

É hora do vinagrete: o vinagrete é essencial aqui no cafofo para acompanhar feijoadas e churrascos. Não tem segredo, é juntar tudo o que consta nos ingredientes. A quantidade de azeite, de limão, de vinagre e de sal vai do gosto de cada um, é essencial que o sabor fique marcante,  mas com o sal e a acidez na dosagem exata. Não é tão fácil como parece.
Alguns costumam colocar água para "refinar" a consistência do vinagrete. Não costumo fazer isso. Um truque é colocar um pouco de sal no tomate picado antes de misturar os demais ingredientes e deixar por um tempo. O tomate soltará seu próprio líquido, só então acrescentar o restante.. Ficará leve, não muito espesso e bem saboroso.
Os demais acompanhantes são os de sempre, né? Arroz branco soltinho e gracioso, couve muito fininha, passada rapidamente no azeite e no alho (não deixe suar, é jogo rápido mesmo), laranja descascadinha e geladinha, muita fome, muita alegria no estar junto e muito não fazer nada depois.

Porque depois de uma feijoada no capricho a gente quer mais é que o mundo se acabe em barranco para morrer encostado.
Cadê o feijão que estava aqui? As carninhas esconderam....

 

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